Fósseis brasileiros espantam o mundo
Paleontólogos da Ulbra encontraram evidências que mudam a história da origem dos dinossauros. O assunto já repercute no mundo inteiro.
As imagens das descobertas paleontológicas podem ser acessadas no álbum https://www.flickr.com/gp/ulbracanoas/45Y257
Entrevista do paleontólogo Sérgio Cabreira à Ulbra TV: https://www.youtube.com/watch?v=oNwbFZW9K-4
Pesquisadores da Universidade Luterana do Brasil (Ulbra, campus Canoas, RS) e Universidade de São Paulo (USP, campus Ribeirão Preto, SP) divulgaram a descoberta de fósseis que mudam importantes aspectos da história da origem dos dinossauros.
Os fósseis foram descritos em artigo publicado na quinta-feira, dia 10 de novembro, na reconhecida revista científica Current Biology (USA), e estão atraindo a atenção da mídia e do meio acadêmico internacionais. A descoberta foi realizada pelos paleontólogos da Ulbra Sergio Furtado Cabreira e Lúcio Roberto da Silva, em 2009, em terrenos sedimentares do Período Triássico Superior localizados no município de São João de Polêsine, na Região Central do Rio Grande do Sul. Os trabalhos de preparação e estudo dos fósseis foram coordenados pelos paleontólogos Sergio Cabreira (Ulbra), Max Langer (USP) e Alexander Kellner (UFRJ).
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O pesquisador Sergio Cabreira relata que as novas descobertas paleontológicas brasileiras, que passam a fazer parte da filogenia internacional dos dinossauros. De acordo com o paleontólogo, os esqueletos de um dinossauro e de outro pequeno animal, de um grupo que é considerado “precursor” dos dinossauros, foram encontrados juntos, em rochas do Período Carniano, de aproximadamente 237-227 milhões de anos atrás. Cabreira afirma que o dinossauro carnívoro, agora chamado Buriolestes schultzi, está entre os mais completos dinossauros primitivos encontrados no mundo até hoje. Os seus ossos e dentes parecem intocados pelo tempo. Segundo os estudos, Buriolestes tem um crânio de apenas 13 centímetros (13 cm) e seus dentes são pontudos, muito recurvados para trás, com as bordas serrilhadas como facas de cortar carne. Buriolestes teria em torno de um metro e meio (150 cm) de comprimento e cinquenta centímetros (50 cm) de altura, pesando não mais que sete quilos (7 kg). Classificado como um sauropodomorfo, Buriolestes seria o único dinossauro deste grupo a ter hábitos alimentares carnívoros.
O segundo fóssil apresentado pelos pesquisadores é um diminuto animal bípede, do grupo dos lagerpetídeos, ao qual os pesquisadores batizaram de Ixalerpeton polesinensis. Este pequeno esqueleto é considerado como sendo de animais que precederam os dinossauros e apenas alguns poucos ossos isolados haviam sido encontrados até hoje. Neste caso, porém, foram encontradas partes do crânio, quase toda a coluna vertebral e parte da cauda. Também foram encontrados partes dos membros anteriores, da cintura pélvica e ossos dos membros inferiores de diversos espécimes. Isto evidenciaria que estes pequenos animais viveriam em bandos. Segundo os pesquisadores, Ixalerpeton seria um pequeno animal insetívoro, com uns quarenta centímetros (40 cm) de comprimento e quinze centímetros (15 cm) de altura. Pesando não mais que cento e cinquenta gramas (150 g), este veloz animal correria aos saltos, pelo fato de seus pés apresentarem ossos metatarsais extremamente longos.
O pesquisador Max Langer, um dos autores do artigo, refere que pequenos detalhes nestes esqueletos bem preservados revelam características ósseas importantes para se compreender a anatomia ancestral dos dinossauros. Segundo Langer, as principais descobertas anatômicas sugerem que os ancestrais dos dinossauros sofreram adaptações dos ossos das vértebras, da pelve, do fêmur e das articulações do tornozelo, no sentido de tornar a locomoção bípede mais eficiente. O paleontólogo informa que a dentição altamente especializada de Buriolestes sugere que o ancestral de todos os dinossauros também deveria ser um animal pequeno e carnívoro. Para Langer, a origem dos dinossauros deve ter ocorrido antes de 230 milhões de anos e, provavelmente, no antigo supercontinente Gondwana, em terrenos que hoje viriam a ser a América do Sul (Brasil e Argentina).
Um dos autores do artigo, o pesquisador Alexander Kellner, do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro, salienta que a pesquisa e importância científica dos achados não param com a publicação do artigo. “O fato de o dinossauro Buriolestes e o ‘precursor’ lagerpetídeo Ixalerpeton terem sido encontrados juntos, abre uma importante janela para a pesquisa das paleofaunas onde viviam dinossauros e espécies bem próximas.” Mas o achado se destaca não apenas nisso.
Segundo Kellner, um dos pontos mais interessantes a serem pesquisados é o crânio de Ixalerpeton, algo que é considerado inédito. Ele afirma que um dos próximos passos da pesquisa é analisar o crânio deste “pré-dinossauro” com o micro tomógrafo computadorizado, tendo como objetivo revelar detalhes da caixa craniana (onde fica alojado o cérebro) de um animal proximamente relacionado aos dinossauros. “Será algo espetacular para a compreensão do surgimento desses répteis que dominaram a Era Mesozóica”, garante.
A equipe de pesquisadores que participou nas diversas fases de estudo destes fósseis brasileiros pertence a nove universidades diferentes, e, de acordo com o paleontólogo Sergio Cabreira, coordenador dos trabalhos, isto é um fato muito significativo. “Os próximos passos da pesquisa trazem diversos desafios para a ciência brasileira”, afirma. De acordo com o pesquisador, além de responder vários questionamentos antigos, essas grandes descobertas abrem um universo de novas possibilidades e teorias sobre a origem e radiação dos primeiros dinossauros.