Dia Mundial da Meningite: vacinação é a forma mais eficaz de prevenção da doença
Vera Rufeisen, infectologista do Vera Cruz Hospital, alerta sobre a necessidade de procurar atendimento aos primeiros sintomas
A meningite é um processo inflamatório das meninges (membranas que envolvem o cérebro e a medula espinhal), causada por bactérias e vírus, e que pode levar a óbito ou deixar sequelas. Problema de saúde pública global, ganhou um dia próprio, 24 de abril, para conscientização. De acordo com o Ministério da Saúde, a cada ano, cerca de cinco milhões de casos são registrados em todo o mundo. No Brasil, os dados registraram cerca de 15 mil em 2019, sendo 224 destes na cidade de Campinas.
Infectologista do Vera Cruz Hospital, Vera Rufeisen explica que a vacinação é a forma mais eficaz de prevenção da doença, que pode ser causada por uma grande variedade de microrganismos, entre eles bactérias, vírus, fungos e protozoários. “A vacinação protege contra o tipo mais grave, o bacteriano, que pode ser causado pelas bactérias Meningococo, Pneumococo e Haemophilus. As meningites do tipo virais são, habitualmente, menos graves e evoluem de forma benigna na maioria dos casos”.
Cada tipo é transmitido de uma forma. As bacterianas meningocócicas são transmitidas por contato direto com uma pessoa contaminada, ao falar, tossir ou espirrar, seja ela assintomática ou doente; já as virais têm predominância pela via fecal-oral, mas também podem ocorrer pela via respiratória. “Entre os sintomas estão febre alta, que surge subitamente, dor de cabeça forte, rigidez no pescoço, vômitos, confusão mental e dificuldade para se concentrar, convulsões, sensibilidade à luz, fraqueza e perda de apetite. Em bebês e crianças, também pode haver agitação, sonolência e irritabilidade”, destaca Vera.
Procurar por atendimento médico logo no início do aparecimento dos sintomas é determinante para o diagnóstico precoce e tratamento. “As meningites bacterianas são tratadas com antibioticoterapia e, em algumas situações, terapia adjuvante com corticoides. Como é necessário o suporte clínico adequado, a pessoa fica internada para tratamento. No caso das meningites virais, como as causadas por enterovírus, faz-se o controle por meio de medicamentos analgésicos, antipiréticos e outros para aliviar os sintomas, exceto em alguns casos, como, por exemplo, com as infecções por Herpes simplex, quando deve ser iniciada uma terapia antiviral”, detalha a infectologista.
No combate à doença, o Vera Cruz Hospital conta com uma equipe multidisciplinar especializada para tratar o paciente de forma individualizada e humanizada durante a permanência na unidade. “O tratamento precoce e adequado dos casos reduz significativamente a letalidade da doença e é importante para o prognóstico satisfatório. O quanto antes identificarmos a patologia e iniciarmos a terapêutica apropriada, maiores as chances de termos uma evolução favorável”, pontua a especialista.
Todas as faixas etárias podem ser acometidas pelas meningites bacterianas, mas as crianças são as mais acometidas e respondem por cerca de 30% dos casos. “A infecção pela Neisseria meningitidis (Meningococo), bactéria causadora da meningite meningocócica, a mais prevalente em nosso meio, pode causar casos muito graves que podem ter evolução para óbito em horas”, alerta Dra. Vera.
A segunda maior causa é a Streptococcus pneumoniae (Pneumococo), que atinge, em sua maioria, os extremos de idade, como crianças de até dois anos e idosos, e é responsável por outras doenças graves invasivas, como pneumonia, meningite, bacteremia, sepse, além de doenças não invasivas, como otite média, sinusite, entre outras. “Eventualmente, pode levar ao óbito e também pode apresentar complicações, como perda da audição, distúrbio de linguagem e visuais, atraso no desenvolvimento psicomotor e cognitivo”.
Já a Haemophilus influenzae B, também chamada de Hib, pode causar infecções e doenças não invasivas, tais como bronquite, sinusites e otites, e até quadros mais graves com pneumonias e meningites. Crianças menores de cinco anos de idade, principalmente as menores de 1 ano, e pessoas maiores de 60 anos são mais suscetíveis à doença.
A infectologista ressalta que o panorama da doença tem apresentado mudanças nas faixas etárias afetadas. “Nos surtos e epidemias, há um deslocamento das faixas etárias acometidas, com aumento na prevalência entre os adolescentes e adultos jovens. No Brasil, a letalidade da doença meningocócica pode chegar a 50% dos casos”, menciona.
A importância da vacinação no combate à meningite
A vacina é a intervenção médica de maior impacto positivo em mortalidade após a descoberta dos antibióticos e pode prevenir uma grande variedade de infecções graves. “Em 1999, foi introduzida no país a vacina contra o Hib, responsável por várias doenças invasivas, como meningites e pneumonias, sobretudo em crianças. O Hib era a segunda causa mais comum de meningite bacteriana no Brasil, atingindo, em sua maioria, menores de um ano. Com a vacina, houve redução de mais de 90% no número de casos, incidência e número de óbitos por meningite por H. influenzae”, adiciona Vera.
Para ela, a imunização é a forma mais eficaz de prevenção de uma ampla variedade de doenças infectocontagiosas e deve ser estimulada para evitar o retorno de infecções graves ao país. “Quando a maioria das pessoas é imunizada para aquele agente, a diminuição da circulação do microrganismo faz diminuir de forma expressiva o número de casos”. Quando o indivíduo é vacinado, ele não apenas se protege: há também uma proteção coletiva para aqueles que não puderam ser imunizados.
No calendário vacinal, temos imunizantes que devem ser administrados na infância, em adultos com determinadas comorbidades (como, por exemplo, ausência do baço, doenças crônicas) ou outras imunodeficiências. As vacinas pneumocócicas também devem ser indicadas para todos os maiores de 60 anos e portadores de doenças como cardiopatias, pneumopatias, diabetes, entre outras. “Cada vacina é para um tipo de bactéria e, mesmo entre elas, há sorotipos específicos. Temos as de meningo ACWY, meningo B, meningo C, Haemophilus B e pneumocócicas 13 e 23 valentes”.
Além da vacina como forma de prevenção, a infectologista dá dicas para evitar o contágio. “Evite locais com aglomeração e dê preferência por ambientes ventilados. Higienize as mãos frequentemente e pratique a etiqueta respiratória, cobrindo a boca e o nariz ao tossir ou espirrar”, conclui.