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Volta às aulas: Experiência internacional aponta desafios e cuidados durante reabertura das escolas no Brasil

Volta às aulas: Experiência internacional aponta desafios e cuidados durante reabertura das escolas no Brasil

Após quase três meses de quarentena decretada para escolas por conta da pandemia, e os consequentes desafios em oferecer condições de estudos para a Educação Básica para milhões de crianças e adolescentes, as escolas começam a planejar o próximo – e difícil – passo. Muitos municípios e estados do Brasil começam a considerar a volta às aulas presenciais, levantando questionamentos sobre quais seriam as boas práticas para tornar isso possível sem comprometer a segurança de seus estudantes e funcionários.

Alguns países ao redor do mundo iniciaram reabertura gradual de suas escolas, adotando medidas de segurança, bem-estar e distanciamento social que têm se mostrado bastante satisfatórias diante do atual contexto da COVID-19. Segundo levantamento do instituto norte-americano Learning Policy Institute, que compila informações preliminares de diretrizes de saúde e segurança adotadas por cinco países (China, Dinamarca, Noruega, Singapura e Taiwan) em três frentes (frequência, distanciamento social e higiene), o sucesso das iniciativas está intimamente relacionado à capacidade desses países de testar e acompanhar casos da doença, e de isolar demais indivíduos que tenham sido expostos ao coronavírus.

Outra nação que merece destaque na estruturação do pacote de medidas para a volta às aulas presenciais é Portugal. O governo local criou um manual de recomendações e tem realizado inúmeros procedimentos para orientar as escolas neste processo, o que tem elevado consideravelmente o nível de confiança da população, com relação à retomada.

Embora o Brasil viva algumas condições relacionadas à pandemia bem distintas de cada um desses países, as experiências e medidas adotadas por eles apresentam um panorama sobre os protocolos que gestores precisam considerar e responder, antes de começarem a pensar em estruturar a volta às aulas presenciais de suas escolas, minimizando os riscos de saúde mental para os alunos e evitando que a escola se torne um ponto de contágio para toda comunidade escolar.

Neste sentido, alguns dos principais pontos de atenção merecem ser destacados, começando pela frequência. O retorno foi feito em fases na maioria dos países, considerando a necessidade das faixas etárias: Dinamarca, Holanda e França retornaram primeiramente com crianças menores de 12 anos, por conta do nível de dependência escolar e por se tratar de um grupo de risco menos exposto ao coronavírus .

A combinação entre ensino presencial e remoto também deve ser levada em consideração neste momento, uma vez que permite o restabelecimento das atividades de forma gradual e sem gerar aglomerações. Para garantir um distanciamento social seguro em sala de aula, muitas escolas estabeleceram novos limites de alunos por sala e novas distâncias entre as carteiras para respeitar um espaço mínimo de dois metros. Já Portugal adotou a divisão em grupos por turno, dobrando a carga horária e a remuneração dos professores.

Para evitar aglomerações de forma geral, as escolas têm sido encorajadas a criar escalas de horários, estabelecendo rotas para entrada e saída da sala de aula e também do colégio, bem como a restrição da entrada de pais e responsáveis em um primeiro momento. Os docentes também são recomendados a não utilizar as salas de professores.

A checagem de temperatura dos alunos de forma regular tem se mostrado uma ação essencial, de preferência no horário da chegada. A testagem dos professores também é indicada antes da retomada das aulas. Já para os procedimentos de quarentena para os alunos sintomáticos ainda não se chegou a um padrão definido. Alguns países recomendam afastamento do aluno por um a dois dias, por duas semanas, até o fim dos sintomas, ou até mesmo a suspensão de toda a classe, como em Taiwan.

Em relação à higienização do ambiente, fundamental a limpeza contínua, a cada duas horas, para objetos e superfícies tocadas constantemente, e logo após o uso de tablets e computadores. Áreas comuns também precisam ser limpas com frequência, entre duas a quatro vezes ao dia. Durante refeições, a proibição de trocas de alimentos e utensílios entre os alunos. Em algumas escolas da China e da Coréia do Sul, divisórias de vidro foram instaladas nos refeitórios entre uma mesa outra.

Por fim, mas não menos importante, as escolas precisarão dedicar atenção redobrada às questões e competências socioemocionais, realizando esforços para auxiliar alunos a se reconectarem com a escola e com seus pares, e para ajudar o professor a lidar com toda a carga emocional envolvida no retorno.

A sociedade como um todo ainda está aprendendo a lidar com os efeitos da pandemia. Aqui no Brasil, em resposta à crise, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, no dia 28 de abril, a proposta que legaliza a oferta de atividades não presenciais em todas as etapas de ensino, como diretriz para a reorganização do calendário escolar de 2020. Ao analisar o contexto de retorno às aulas presenciais, o CNE recomenda que, na volta, as escolas apliquem uma avaliação diagnóstica de retorno, para tentar identificar quais habilidades essenciais foram aprendidas, ou não, durante o período de isolamento e ensino remoto.

Enquanto respostas mais concretas não chegam e o Brasil não desenvolve seu próprio manual de retorno às aulas presenciais, com diretrizes e recomendações específicas para a nossa realidade, seguimos nos espelhando e aprendendo com quem já está começando a entender, aos poucos, como será a Educação Básica do pós-pandemia.

Por Ademar Celedônio, professor e diretor de Ensino e Inovações Educacionais do SAS Plataforma de Educação.

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