“Independentemente da decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) de manter a Selic, medida tomada na quarta-feira (21/09), o atual patamar de 13,75% ao ano já é alto e ainda não apresentou todos os efeitos esperados em termos de impacto na atividade econômica.” Análise é de Fernando Valente Pimentel, presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit). Para ele, a escalada dos juros nos últimos meses, em parte necessária para conter a inflação, a qual já dá sinais de arrefecimento, “faz com que muitas empresas e pessoas físicas deixem de buscar crédito, travando o nível de atividade e dificultando a retomada e manutenção do crescimento”.
 

Como exemplo prático, Pimentel cita o levantamento Rumos da Indústria Paulista/FIESP, no qual foram ouvidas 317 empresas do setor. “Dos respondentes, 66% não buscaram crédito em 2022, sendo que 18% deles explicitaram que o motivo refere-se aos juros muito elevados”.
 

Mais de 70% das grandes indústrias e 50% das micro, pequenas e médias consideraram a taxa praticada em 2022 muito pior do que a de 2021. Dentre os respondentes, 63,8% disseram ter encontrado juro mensal entre 1% e 2,5%, enquanto 25,7% reportaram índices entre 2,5% e 5%.
 

“Como se observa nesses percentuais, a Selic desencadeia alta ainda maior das taxas na ponta das instituições financeiras, nas quais o spread também está pesado”, explica o presidente da Abit, ponderando: “Esse patamar prejudica os setores produtivos, inibe o consumo e freia a economia nacional”. A retomada consistente do crescimento econômico demanda juros estruturalmente compatíveis com a taxa de retorno dos investimentos produtivos. “Para isso, temos que ter como ponto de partida a questão fiscal ajustada, proporcionando confiança na solvência da dívida pública”, conclui.